segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"CAPITU"





Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira; eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca."
- Dom Casmurro, Machado de Assis
 
deixar transparecer aquele mistério através da janela da alma? talvez não, talvez sim. o divertido era brincar com o jogo de dissimular, verdadeiramente ou não, fingir-se brilhando quando apenas desmoronava, desmoronar quando apenas estava necessitada. àqueles olhos devem-se muitas coisas, perigoso poder de persuasão, sorria com eles, chorava com eles, morria e renascia com eles. enfim, cabe a definição:
olhos de cigana, oblíqua e dissimulada.

Um comentário:

  1. Lindo, lindooo Cláu!

    Temos todos nossas dissimulações, FATO!
    E os olhos? Sim, esses dizem tantas coisas.

    Um beijoooo minha flor!

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